PARTE 2 - INTERAÇÕES
EXTRAIDO DE BEGON, TWONSEND E HARPER, 2007
RESUMO
A sustentabilidade é o conceito central na preocupação crescente em relação ao destino da Terra e das comunidades ecológicas que a ocupam. Neste capítulo, tratamos de dois aspectos-chave do manejo de recursos naturais – o controle de pragas e o manejo de exploração de populações selvagens. Cada um deles depende de um entendimento das interações populacionais (discutidas nos Capítulos 8 e 14) e cada um tem a sustentabilidade como principal objetivo.
Pode-se imaginar que o objetivo do controle de pragas seja a erradicação total, mas esta em geral é restrita aos casos em que uma nova espécie exótica invadiu uma região e um rápido esforço é investido para eliminá-la completamente. Normalmente, a meta é reduzir a população da praga a um nível no qual não vale mais a pena investir recursos em mais controle (o nível de prejuízo econômico, ou NPE). Dessa forma, podemos ver que a economia e a sustentabilidade estão intimamente ligadas. Quando a população de uma praga atinge uma densidade na qual está causando prejuízo econômico, no entanto, em geral é muito tarde para começar a controlá-la. Então, o limiar econômico (LE) é mais importante. O limiar econômico é a densidade da praga na qual a ação deveria ser realizada para impedi-la de atingir o NPE.
Descrevemos o conjunto de ferramentas representando pelos pesticidas e herbicidas químicos. Eles são uma parte-chave do arsenal dos responsáveis pelo controle de pragas, mas devem ser usados com cuidado devido à possibilidade de “ressurgência da praga-alvo” (quando o tratamento afeta mais os inimigos naturais do que a própria praga) e de “surtos de pragas secundarias” (quando os inimigos naturais de pragas “em potencial” são fortemente afetados, o que permite que as pragas em potencial se tornem pragas reais). As pragas também são capazes de desenvolver resistência aos pesticidas.
Uma alternativa aos pesticidas químicos é a manipulação biológica dos inimigos naturais das pragas. O controle biológico pode envolver: (i) “introdução”, com a expectativa de persistência a longo prazo de um inimigo natural de outra região geográfica (frequentemente da região de origem da espécie-praga); (ii) manipulação de predadores naturais já presentes (“controle biológico conservacionista”); (iii) liberação periódica de um agente que é incapaz de persistir durante todo o ano, mas que realiza o controle durante uma ou poucas gerações (“inoculação”); ou (iv) liberação de um grande número de inimigos (os quais não persistirão) para matar apenas aqueles indivíduos da espécie-praga presentes no momento (“inundação”, as vezes chamada, por analogia, de pesticidas biológicos). O controle biológico não é, de forma alguma, sempre ambientalmente correto. Estão sendo acumulados exemplos em que introduções aparentemente bem-sucedidas de agentes de controle biológico cuidadosamente escolhido impactaram espécies não-alvo relacionadas à espécie-praga quando pela influencia sobre outras espécies que interagem em teias alimentares com as espécies não-alvo.
O manejo integrado de pragas (MIP) é uma filosofia pratica de manejo que é baseada na ecologia, mas que usa todos os métodos de controle, incluindo os químicos, quando apropriados. Ela baseia-se fortemente nos fatores de mortalidade natural, como as condições climáticas e os inimigos naturais.
Sempre que uma população natural é explorada, existe o risco de sobre-exploração. Mas os responsáveis por sua exploração também querem evitar a subexploração, na qual consumidores potenciais são privados do produto, e os empregados nessa atividade ficam subempregados. Assim, como em muitas áreas da ecologia aplicada, existem importantes perspectivas econômicas, sociais e políticas a considerar.
O conceito de produção máxima sustentável (PMS) tem representado um princípio norteador do manejo de exploração. Descrevemos as diferentes abordagens para obter uma PMS – adotando uma cota fixa, regulando o esforço de exploração, explorando uma proporção constante ou permitindo um escape constante – e chamamos a atenção para as limitações de cada uma delas. Abordagens mais confiáveis para a exploração sustentável também são discutidas, incluindo os modelos de estoque dinâmico (os quais reconhecem que todos os indivíduos na população explorada não são equivalentes e incorporam a estrutura da população nos modelos populacionais) e abordagens que incorporam, explicitamente, os fatores econômicos (tratando da produção economicamente ótima, PEO, em vez de simplesmente da PMS). Também observamos que não existem dados disponíveis para muitos dos estoques pesqueiros mundiais, em especial nos países em desenvolvimento; nesses casos, princípios simples de manejo “sem dados” podem representar o melhor que os ecólogos podem propor.
Finalmente, muitas populações (incluindo aquelas de pragas e populações exploradas) existem em ambientes heterogêneos, às vezes como metapopulações. Os gestores ambientais precisam estar cientes dessa possibilidade, por exemplo, na determinação de qual agente de controle biológico usar em uma paisagem agrícola ou no planejamento de uma rede de zonas de exclusão de pesca como parte de uma estratégia de gestão pesqueira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário